31-A FOGUEIRA DE XANGÔ-

 

XANGÔ NO CANDONBLE, NA UMBANDA E NO CATOLICISMO

Xangô foi o primeiro Deus Iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras.

Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal. Ele é o Orixá do raio e do trovão.

 Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade (a não serem em contendas pessoais suas; presentes nas lendas referentes a seus envolvimentos amorosos e congêneres).

Seu raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial, onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente.

Seu Axé, portanto está concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Orixá.

 Outro mito o aponta como filho de Sogba, sendo o rei de Ijesà (Ijexá), foi esse orixá que casou com Oxum. No Brasil, Aganjú é, ou Xangô Aganjú, considerado uma qualidade de Xangô, sendo o dono das leis, da escrita, padroeiro dos intelectuais, em contraste com Xangô Agodô ( o mais velho) que é, principalmente, o orixá do equilíbrio e da justiça.

 Aganjú, sendo cultuado como qualidade de Xangô, veste-se como o rei, e tem seus fundamentos como o soberano de Oyó, come carneiro. Porém, se cultuado como um orixá independente, Aganjú, possui fundamentos com Ogum, veste-se de Azul com vermelho, come bode castrado, carrega na mão um Oxé e na outra uma espada. Come amalá com gotas de dendê e azeite doce, Ajebô normal. Primeiro se dá comida à Xangô, depois à Ogum.

 

 O MACHADO DE XANGÔ--- ZEUS

O símbolo do Axé de Xangô é uma espécie de machado estilizado com duas lâminas, o Oxé, que indica o poder de Xangô, corta em duas direções opostas. O administrador da justiça nunca poderia olhar apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo ponto de vista sempre.                                                                                                         ZEUS

 Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores, sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça por ele aplicada.

 Segundo Pierre Verger, esse símbolo se aproxima demais do símbolo de Zeus encontrado em Creta.

 Assim como Zeus, é uma divindade ligada à força e à justiça, detendo poderes sobre os raios e trovões, demonstrando nas lendas a seu respeito, uma intensa atividade amorosa.

Outra informação de Pierre Verger especifica que esse Oxé parece ser a estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo o duplo machado, e lembra, de certa forma a cerimônia chamada ajerê,

Xangô portanto, já é adulto o suficiente para não se empolgar pelas paixões e pelos destemperos, mas vital e capaz o suficiente para não servir apenas como consultor.

 

XANGÔ E A MORTE

 Outro dado saliente sobre a figura do senhor da justiça é seu mau relacionamento com a morte.

Se Nanã é como Orixá a figura que melhor se entende e predomina sobre os espíritos de seres humanos mortos,( Eguns),

 Xangô é que mais os detesta ou os teme.

 Há quem diga que, quando a morte se aproxima de um filho de Xangô, o Orixá o abandona, retirando-se de sua cabeça e de sua essência, entregando a cabeça de seus filhos a Obaluaiê e Omulu sete meses antes da morte destes, tal o grau de aversão que tem por doenças e coisas mortas.

 Um filho que seja um iniciado com o Orixá na cabeça, não deve entrar em cemitérios nem acompanhar a enterros.

Tudo que se refere a estudos, as demandas judiciais, ao direito, contratos, documentos trancados, pertencem a Xangô.

 

AS TRES ESPOSAS DE XANGÔ

 Xangô teria como seu ponto fraco, a sensualidade devastadora e o prazer, sendo apontado como uma figura vaidosa e de intensa atividade sexual em muitas lendas e cantigas, tendo três esposas:

Obá, a mais velha e menos amada;

Oxum, que era casada com Oxossi e por quem Xangô se apaixona e faz com que ela abandone Oxossi; e

 Iansã, que vivia com Ogum e que Xangô raptou.

HISTÓRICO

No aspecto histórico Xangô teria sido o terceiro Aláàfin Oyó, filho de Oranian e Torosi, e teria reinado sobre a cidade de Oyó (Nigéria), posto que conseguiu após destronar o próprio meio-irmão Dada-Ajaká com um golpe militar. Por isso, sempre existe uma aura de seriedade e de autoridade quando alguém se refere a Xangô.

Conta a lenda que ao ser vencido por seus inimigos, refugiou-se na floresta, sempre acompanhado da fiel Iansã, enforcou-se e ela também. Seu corpo desapareceu debaixo da terra num profundo buraco, do qual saiu uma corrente de ferro - a cadeia das gerações humanas. E ele se transformou num Orixá

 XANGÔ E A POLITICA

Xangô também gera o poder da política. É monarca por natureza e chamado pelo termo obá, que significa Rei. No dia-a-dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos, lideranças sindicais, associações, movimentos políticos, nas campanhas e partidos políticos, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.

 Xangô é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, à vontade de vencer.

 Também o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de liderança.

Para Xangô, a justiça está acima de tudo e,(menos ao que se refere a ele)

Para ele, nenhuma conquista vale a pena sem ajustiça; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.

Xangô é um Orixá de fogo, filho de Oxalá com Yemanjá. Diz a lenda que ele foi rei de Oyó. Rei poderoso e orgulhoso e teve que enfrentar rivalidades e até brigar com seus irmãos para manter-se no poder.

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 CARACTERÍSTICAS

COR  Marrom (branco e vermelho)

FIO DE CONTAS  Marrom leitosa

ERVAS  Erva de São João, Erva de Santa Maria, Beti Cheiroso, Nega Mina, Elevante, Cordão de Frade, Jarrinha, Erva de Bicho, Erva Tostão, Caruru, Para raio, Umbaúba. (Em algumas casas: Xequelê)

SIMBOLO - Machado

PONTOS DA NATUREZA -Pedreira

FLORES  -Cravos Vermelhos e brancos

ESSÊNCIAS - Cravo (flor) morango

PEDRAS  -Meteorito, pirita, jaspe.

METAL - estanho

SAÚDE -fígado e vesícula

PLANETA -Júpiter

DIA DA SEMANA -Quarta-Feira

ELEMENTO -Fogo

CHACRA  -cardíaco

SAUDAÇÃO -Kaô Cabecile (Opanixé ô Kaô)

BEBIDA -Cerveja Preta

ANIMAIS  -Tartaruga, Carneiro

COMIDAS -Agebô, Amalá

NUMERO -12

DATAS COMEMORATIVAS- 24,  29 de junho e 30 de setembro   

SINCRETISMO -: São José, Santo Antônio, São Pedro, Moisés, São João Batista, São Gerônimo.

INCOMPATIBILIDADE: Caranguejo, Doenças

QUALIDADES: Dadá, Afonjá, Lubé, Agodô, Koso, Jakuta, Aganju, Baru, Oloroke, Airá Intile, Airá Igbonam, Airá Mofe, Afonjá, Agogo, Alafim

 

 ATRIBUIÇÕES

Xangô é o Orixá da Justiça e seu campo preferencial de atuação é a razão, despertando nos seres o senso de equilíbrio e eqüidade, já que só conscientizando e despertando para os reais valores da vida a evolução se processa num fluir contínuo

 As CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE XANGÔ

 Para a descrição dos arquétipos psicológico e físico das pessoas que correspondem a Xangô, deve-se ter em mente uma palavra básica: Pedra.

É da rocha que eles mais se aproximam no mundo natural e todas as suas características são balizadas pela habilidade em verem os dois lados de uma questão, com isenção e firmeza granítica que apresentam em todos os sentidos.

Atribui-se ao tipo Xangô um físico forte, mas com certa quantidade de gordura e uma discreta tendência para a obesidade, que se ode manifestar menos ou mais claramente de acordo com os Ajuntós (segundo e terceiro Orixá de uma pessoa).

Por outro lado, essa tendência é acompanhada quase que certamente por uma estrutura óssea bem-desenvolvida e firme como uma rocha.

Tenderá a ser um tipo atarracado, com tronco forte e largo, ombros bem desenvolvidos e claramente marcados em oposição à pequena estatura;

 

AS FILHAS DE XANGÔ

 A mulher que é filha de Xangô, pode ter forte tendência à falta de elegância.

Não que não saiba reconhecer roupas bonitas - tem, graças à vaidade intrínseca do tipo, especial fascínio por indumentárias requintadas e caras, sabendo muito bem distinguir o que é melhor em cada caso.

Mas sua melhor qualidade consiste em saber escolher as roupas numa vitrina e não em usá-las.

Não se deve estranhar seu jeito meio masculino de andar e de se portar e tal fato não devem nunca ser entendidos como indicador de preferências sexuais

 Mas, numa filha de Xangô é um processo de comportamento a ser cuidadosamente estabelecido, já que seu corpo pode aproximar-se mais dos arquétipos culturais masculinos do que femininos.

 Terá ombros largos, ossatura desenvolvida, porte decidido e passos pesados, sempre lembrando sua consistência de pedra.

 CARACTERISTICAS DOS FILHOS DE XANGÔ

. Os filhos e filhas de Xangô são tidos como grandes conquistadores, são fortemente atraídos pelo sexo oposto e a conquista sexual assume papel importante em sua vida.

São honestos e sinceros em seus relacionamentos mais duradouros, porque para eles sexo é algo vital, insubstituível, mas o objeto sexual em si não é merecedor de tanta atenção depois de satisfeito desejo.

Gostam de dar a última palavra em tudo, se bem que saibam ouvir.

Quando contrariados, porém, se tornam rapidamente violentos e incontroláveis. Nesse momento, resolvem tudo de maneira demolidora e rápida, mas, feita a lei, retornam a seu comportamento mais usual.

São variáveis no humor, mas incapazes de conscientemente cometer uma injustiça, fazer escolha movido por paixões, interesses ou amizades.

Os filhos de Xangô são extremamente enérgicos, autoritários, gostam de exercer influência nas pessoas e dominar a todos, são líderes por natureza, justos honestos e equilibrados, porém quando contrariados, ficam possuídos de ira violenta e incontrolável.

 

 AYRA

 

*******        A FOGUEIRA DE XANGÔ-  29/06

 

 

 AIRÁ-(AYRÁ).

O GRANDE HOMENAGEADO DURANTE A FESTADO DO FOGO( ISIRE INA AYRA)

 Airá não usa coroa, mas um eketé branco. Suas comidas votivas não são temperadas com dendê, e sim com banha de ori africana. Come quiabos, assim como Xangô e toda a sua família.

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A compreensão da divindade do Candomblé ‗Ayrá‘ está norteada
 pela ativação de oito espaços mentais,
uma vez que a JUSTIÇA e a PUNIÇÃO representam caraterísticas (parte)
da pessoa de Ayrá, ou seja, do ANDARILHO, GUERREIRO.


A história de Ayrá está associada também à realização de poderes
mágicos relacionados ao fogo, aos raios, ao trovão e à chuva. 
As narrativas de Ayrá são inteiramente baseadas na história dessa
divindade ocorrida séculos atrás. 
O uso de roupas brancas faz parte da história de Ayrá, porque, no
seu tempo, o tingimento em tecido era uma prática ainda não realizada,
 anteriormente.

Ayrá não utiliza uma coroa, visto que sua história demonstra como
ele não foi rei. Contudo, essa divindade utiliza um adorno na cabeça.

No Candomblé, as crenças associadas a Ayrá são baseadas nos
poderes de dominação do fogo, dos raios, dos trovões e da chuva. 

CHOCALHO e ADORNO, símbolos da divindade Ayrá, ocorre
a projeção dos domínios RAIOS, TROVÃO, FOGO e CHUVA,
pois, assim, podemos entender como Ayrá é o Orixá associado a esses
elementos da natureza. O mesmo ocorre com o domínio JUSTIÇA,  de RITUAIS,
NARRATIVAS, CRENÇAS e DIVINDADE, nos ajudam a entender toda a representatividade de Ayrá na religião do Candomblé.

 Xangô e Ayrá, vistos por muitas casas de Candomblé
no Brasil como uma única divindade, são distintas divindades,
mesmo que apresentem certas similaridades/analogias.
O input 1 é, conforme já explicado pela rede de Xangô (figura 2),
uma mescla que nos apresenta a conceptualização da referida divindade e
sua representação para a religião do Candomblé. Assim, vemos como esse
espaço mental ativa domínios que nos permitem caracterizar essa divindade,
como: é do GÊNERO MASCULINO, ORIXÁ DO TROVÃO,
RAIO, FOGO e da JUSTIÇA, foi um REI da cidade de OYÓ e, portanto,
USA UMA COROA, usa ROUPA DE COR MARROM e em seus rituais
utiliza um MACHADO e um CHOCALHO.
 

Ayrá, pertenceu ao reino de ITILÊ,

Podemos perceber como esses dois espaços mentais Xangô e Ayrá,apresentam
domínios similares e até idênticos. Fato esse que pode ser o motivo de,
normalmente, essas duas divindades (Xangô e Ayrá) serem equivocadamente
compreendidas como uma somente por alguns praticantes da religião
em questão.


MASCULINO, ORIXÁ DO TROVÃO, ORIXÁ DO FOGO, ORIXÁ
DOS RAIOS, ORIXÁ DA JUSTIÇA, MACHADO e CHOCALHO, 
 classificações atribuídas tanto a Xangô como para Ayrá, dentro da religião do Candomblé.
Porém, Xangô foi rei de Oyó, Ayrá não foi rei. As histórias em torno de Ayrá
narram que ele era um andarilho ou um guerreiro. 
DO ITILÊ . Por conta de ter sido rei, Xangô utiliza em seus rituais do Candomblé uma coroa. Já Ayrá utiliza um adorno na cabeça.

 As roupas usadas
por Xangô são de cor marrom, para simbolizar o elemento fogo. Já as de
Ayrá são de cor branca, em virtude de sua história. 
 Xangô e Ayrá, mesmo apresentando certas similaridades, são duas distintas divindades do Candomblé. 

Ambos exerciam cargos de chefia, por exemplo, ou que Ayrá era irmão ou general
do exército de Xangô). 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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nagô–yorubá entre o céu e a terra. 13. ed. Rio de Janeiro: Bertrand,
2019.
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2020.
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Oxford University Press, 2006.
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Fogo. 3. ed. Pallas: 2009.
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SCHILTZ, Mark. Yoruba thunder deities and sovereignty: Ara versus
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VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás: deuses iorubás na África e no novo

 

 

 

 

LENDA DA FOGUEIRA DE XANGÔ AIRA-

 

 *** OBS: (NO BRASIL, AIRA É VISTO ERRONEAMENTE COMO UMA QUALIDADE DE XANGÔ.

AIRA É UM ORIXÁ RELACIONADO A FAMÍLIA DO RAIO, MAS É RELACIONADO AO VENTO.

SEU NOME PODE SER TRADUZIDO COMO "REDEMOINHO". PODE SER LOUVADO COMO A DIVINDADE QUE REGE O ENCONTRO DO VENTO.)

 Segundo os mitos, Oxalá permaneceu injustamente preso durante sete anos no reino de seu filho, Xangô, sem que este soubesse do fato. Grandes calamidades ocorreram em todo o reino devido a essa injustiça e quando Xangô finalmente descobriu o que havia acontecido com o próprio pai, resgatou-o da prisão e ordenou que fossem organizadas grandes festas em todo o reino, em sua homenagem. A festividade conhecida hoje como Águas de Oxalá remonta a esse acontecimento.

 No entanto, Oxalá estava muito alquebrado, ferido e entristecido. Apesar de toda a atenção que recebeu, a única coisa que desejava era retornar ao seu próprio reino, em Ifé, onde Yemanjá, sua esposa, o aguardava. Xangô não podia acompanhá-lo pois precisava colocar em ordem o próprio reino e pediu a Airá que fizesse isso em seu lugar.

 Foi assim que Airá tornou-se o companheiro de Oxalá, pois a viagem foi muito longa já que Oxalá andava muito devagar (conta-se também que Airá carregava Oxalá nas costas) pelo fato de ainda estar se recuperando dos ferimentos que adquirira durante os sete anos de prisão.

 Durante o dia, eles caminhavam. À noite, Oxalá sentia frio e precisava descansar. Para aquecê-lo e distraí-lo dos próprios pensamentos, Airá mandava que acendessem uma grande fogueira no acampamento. Oxalá observava o fogo e Airá passava longas horas contando-lhe histórias do povo de Oyó.

 Desse modo, tornou-se tradição acender a fogueira no dia 29 de junho de cada ano (no Brasil), em homenagem a Airá e à viagem que fez em companhia de Oxalá.

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AS 3 SUBDIVISÕES DE XANGÔ AIRÁ

 AYRA IGBONÃ

É considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Airá, rito em que Igbonã dança acompanhado de Iansã, pisando as brasas incandescentes. Conta o mito que Igbonã foi criado por Dadá, que o mimava em tudo o que podia.

 Não havia um só desejo de Ibonã que Dadá não realizasse. Um dia Dadá surpreendeu Ibonã brincando com as brasas do fogão, que não lhe causavam nenhum dano.

 Desde então, em todas as festas do povoado, lá estava Airá Igbonã, sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras.

 Nessa qualidade, os seguidores de Airá têm espírito jovem, perigoso, violento, intolerante, mas são brincalhões, alegres, gostam de dançar e cantar.

 

AIRÁ INTILÉ

 É o filho rebelde de Obatalá.

 Airá foi um filho muito difícil, causando dissabores a Obatalá.

Um dia, Obatalá juntou-se a Odudua e ambos decidiram pregar uma reprimenda em Intilé. Estava

Intilé na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram à porta e levaram seu cavalo branco. Airá Intilé percebeu o roubo e sabedor que dois velhos o haviam levado seu cavalo predileto, saiu no encalço.

Na perseguição encontrou Obatalá e tentou enfrentá-lo. O velho não se fez de rogado, gritou com Intilé, exigindo que se prostrasse diante dele e pedisse sua benção. Pela primeira vez Airá Intilé havia se submetido a alguém.

 Airá tinha sempre ao pescoço colares de contas vermelhas. Foi então que Obatalá desfez os colares de Airá Intilé e alternou as contas encarnadas com as contas brancas de seus próprios colares.

 Obatalá entregou a Intilé seu novo colar, vermelho e branco. Daquele dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho.

E para terminar o mito, Obatalá fez com que Airá Intilé o levasse de volta a seu palácio pelo rio, carregando-o em suas costas.

 Nesta qualidade, Airá Intilé dá a seu devoto um ar altivo e de sabedoria, prepotente, equilibrado, intelectual, severo, moralista, decidido.

 AIRÁ OSI

 É o eterno companheiro de Oxaguiã.

 Um dia, passando Oxaguiã pelas terras onde vivia Airá Osi, despertou no jovem grande entusiasmo por seu porte de guerreiro e vencedor de batalhas.

Sem que Oxaguiã se desse conta, Airá trocou suas vestes vermelhas pelas brancas dos guerreiros de Oxaguiã, misturando-se aos soldados do rei de Ejibô.

No caminho encontraram inimigos ao que Osi, medroso que era, escondeu-se atrás de uma grande pedra. Oxaguiã observava a disputa do alto de um monte, esperando o momento certo de entrar nela, mas, para sua surpresa, percebeu que um de seus soldados estava de cócoras, escondido atrás da pedra.

Sorrateiramente Oxaguiã interpelou seu soldado e para sua surpresa deparou-se com Airá que chorava de medo, implorando seu perdão, por haver enganado o grande guerreiro branco.

 Oxaguiã, por sua bondade e sabedoria, compadeceu-se de Airá Osi. No entanto, como punição pela mentira de Airá, decidiu que naquele mesmo dia o jovem voltaria à sua terra natal vestindo-se de branco e nunca mais usaria o escarlate, devendo dedicar-se a arte da guerra para poder seguir com ele em suas eternas batalhas.

Os filhos de Airá Osi são considerados jovens guerreiros, lutam pelo que querem, mas as vezes deixam-se enganar pela impetuosidade. São calmos, não tidos a trabalhos intelectuais, são amorosos, alegres e sentimentais.

Algumas particularidades como não usar dendê no culto ao orixá, isso devido ao fato da sua estreita relação com Oxalá e o uso da gamela redonda, que o diferencia de Xangô. Não deixando de esquecer o Vermelho e Branco, marcante em suas roupas.

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 ALGUMAS QUALIDADES DE XANGÔ- MITOS

AGODÔ

Sincretizado com São Jerônimo em terreiros onde o sincretismo ainda é observado; é aquele que, ao lançar raios e fogo sobre seu próprio reino, o destrói, como contado no mito apresentado neste trabalho.

Gente de Agodô é do tipo guerreira, violenta, brutal, imperiosa, aventureira, amante da ordem e da justiça, mesmo que isso implique numa justiça pautada em seu próprio benefício.

 OBACOSSÓ

Em sua passagem pela cidade de Cossô, Xangô recebe o nome de Obacossô, ou seja, o rei de Cossô.

Conta o mito que, depois de passar pela terra dos tapas, Xangô refugiou-se na cidade de Cossô, mas a dor de haver destruído seu povo, levou o rei a suicidar-se.

No momento da morte de Xangô, Iansã chegou ao Orum e, antes que Xangô se tornasse um egum, pediu a Olodumare que o transforme num orixá.

Assim Xangô foi feito orixá pelo pedido de sua mulher Iansã.

 Os filhos de Obacossô são serenos, tiranos, cruéis, agressivos, severos, amorosos, moralistas.

 JACUT

É o senhor do edun-ará, a pedra de raio.

Conta o mito que o reino de Jacutá foi atacado por guerreiros de povos distantes, num dia em que seus súditos descansavam e dançam ao som dos tambores.

 Houve muita correria, muita morte, muitos saques. Jacutá escapou para a montanha seguido de seus conselheiros, donde apreciava o sofrimento de seu povo.

 Irado, o rei chamou sua mulher Iansã, que, chegando com o vento, levou consigo a tempestade e seus raios. Os raios de Iansã caíram como pedras do céu, causando medo aos invasores, que fugiram em debandada.

Mais uma vez, Jacutá fora acudido por Iansã, e mais, sua eterna amante deu-lhe, dessa feita, o poder sobre as pedras de raio, o edun-ará.

Gente de Jacutá tem espírito de um velho pensador, justiceiro, incansável, brutal, colérico, impiedoso, preocupado com a causa dos outros.

 AFONJÁ

Patrono de um dos terreiros mais tradicionais e antigos da Bahia, o Axé Opô Afonjá, é o Xangô da casa real de Oió.

 Nesse avatar Xangô Afonjá é aquele que está sempre em disputa com Ogum.

Um dos mitos que relata tal passagem nos conta que Afonjá e Ogum sempre lutaram entre si, ora disputando o amor da mãe, Iemanjá, ora disputando o amor de suas eternas mulheres, Oiá, Oxum e Oba.

Lutaram desde o começo de tudo e ainda lutam hoje em dia. No entanto, naquele tempo, ninguém vencia Ogum. Ele era ardiloso, desconfiado, jamais dava as costas a um inimigo.

Um dia, Afonjá cansado de tanto perder as batalhas para Ogum, convidou-o para ter com ele nas montanhas. Afonjá sempre apelava para a magia quando se sentia ameaçado e não seria diferente daquela vez.

 Ao chegar no pé da montanha de pedra, Afonjá lançou seu machado oxé de fazer raio e um grande estrondo se ouviu.

 Ogum não teve tempo de fugir, foi soterrado pelas pedras de Afonjá. Xangô Afonjá venceu Ogum naquele dia e somente naquele dia. Por essas características que o mito mostra.

Filhos de Afonjá  tem um espírito jovem e sábio, são feiticeiros, libertinos, tirânicos, obstinados, galantes, autoritários, orgulhosos, e adoram uma peleja.

 BARU 

Conta o mito em que Xangô recebe de Oxalá um cavalo branco como presente.

 Com o passar do tempo, Oxalá voltou ao reino de Xangô Baru, onde foi aprisionado, passando sete anos num calabouço.

Calado no seu sofrimento, Oxalá provocou a infertilidade da terra e das mulheres do reino de Baru.

Mas Xangô Baru, com a ajuda dos babalaôs, descobriu seu pai Oxalá preso no calabouço de seu palácio. Naquele dia, ele mesmo e seu povo vestiram-se de branco e pediram perdão ao grande orixá da criação, terminando o ato com muita festa e com o retorno de Oxalá a seu reino.

 Assim seus descendentes míticos agirão sempre como um jovem desconfiado, ambicioso, elegante, teimoso, hospitaleiro, galante; neste avatar, e somente neste, Xangô surge como um rei humilde e solidário com a causa de seu

ALAFIM –É o dono do palácio real de Oyó. É Jovem, guerreiro, ligado à Oxaguian. Veste-se de Branco com detalhes vermelhos.

 OBA KOSSO –Jovem, nesse momento, Xangô casa-se com Òbá e funda a cidade de Kossô, nos arredores de Oyó.

Tornando-se o Rei de Kossô. Veste-se de vermelho e branco. Chamado, erroneamente, aqui no Brasil, de Obô Kossô, este perde esse título para Ayrá. (ver postagens de Ayrá).

OBÁ LUBÊ  – Neste momento, Xangô destrona seu irmão Dadá-Ajaká e assume o reino de Oyó - Neste caminho, Xangô consolida a “trigamia” com Oyá, Òbá e Oxum. Portanto tem fundamento com as três orixás; veste-se de vermelho e branco.

OBÁ AJAKÁ  – Também conhecido como Bayaniyn (o pai me escolheu), Seria o irmão mais velho de Xangô, por ele destronado. Por ser o filho mais velho de Oraniã, o trono de Oyó é dele, por direito. É jovem, veste-se de vermelho e branco, ou marrom e branco.

 AIRANà – É a personificação do próprio fogo.   ***(No Brasil Aira e um orixá viso erroneamente como uma qualidade de Xangô. Ver mais sobre esse Orixá na página 31: " A fogueira de Xangô")

OBA URUGà – Filho de Oraniã com Iyemanjá violentou a própria mãe, na ausência do pai. Este é o orixá senhor do sol. Veste-se de vermelho alaranjado.

 AGODÔ – Velho, rege os trovões e os tremores de terra. Veste-se de marrom e branco, ou apenas branco. Tem fundamentos com Oyá, Oxum e Iyemanjá.

 AGANJÚ-

(Outro mito o aponta como filho de Sogba, sendo o rei de Ijesà (Ijexá), foi esse orixá que casou com Oxum. No Brasil, Aganjú é, ou Xangô Aganjú, considerado uma qualidade de Xangô, sendo o dono das leis, da escrita, padroeiro dos intelectuais, em contraste com Xangô Agodô ( o mais velho) que é, principalmente, o orixá do equilíbrio e da justiça.

Aganjú, sendo cultuado como qualidade de Xangô, veste-se como o rei, e tem seus fundamentos como o soberano de Oyó, come carneiro. Porém, se cultuado como um orixá independente, Aganjú, possui fundamentos com Ogum, veste-se de Azul com vermelho, come bode castrado, carrega na mão um Oxé e na outra uma espada. Come amalá com gotas de dendê e azeite doce, Ajebô normal. Primeiro se dá comida à Xangô, depois à Ogum.)

 ORANIÃ –

O patriarca. Pai de Xangô, foi ele quem fundou a cidade de Oyó. É jovem, guerreiro e muito poderoso. Veste-se de vermelho. Suas ferramentas são douradas, possui fundamentos com Oxalufã e Iemanjá.

 OLOOKÈ –

Velho, pertence a família de Xangô. È o dono das montanhas, veste-se de branco com detalhes marrons... As vezes é confundido com Agodô, mas não é o mesmo. Possui fundamentos com Ewá, o horizonte.

ALUFà - 

É idêntico a um Airá, veste-se de branco também. Possui fundamentos com Oxalufãn. Suas ferramentas são prateadas.

 OBAIM – Jovem, veste-se de marrom, ligado à Oyá. Também possui fundamentos com Exú.

 ORANFÉ –

É o justiceiro, reto e impiedoso. Mora na cidade de Ifé – Terra de Oxalá. Tem fundamentos com Oxaguian – veste-se de vermelho e branco. É Jovem. 

Algumas particularidades como não usar dendê no culto ao orixá, isso devido ao fato da sua estreita relação com Oxalá e o uso da gamela redonda, que o diferencia de Xangô. Não deixando de esquecer o Vermelho e Branco, marcante em suas roupas. 

Em terra tupiniquins, foi sincretrizado como São Pedro, pois segundo a mitologia cristã, ele é o guardião das portas do céu. Não sei o certo se é devido a esse sincretismo que alguns filhos de Aira, usam o Oxê (Machado de dois gumes) e a Chave, que é o símbolo de São PedrO

 

XANGÔ NA UMBANDA

 Xangô é o Rei da Justiça, do Fogo, do Trovão, da Inteligência e das Pedreiras.

É sincretizado com diversos santos, como por exemplo,

 Santo Expedito,

São Pedro,

São João Batista, entre outros.

 Mas o sincretismo que melhor representa Xangô é  o feito com São Jerônimo. 

O Santo na pedreira, com um livro nas mãos e um leão ao lado simboliza a sabedoria e a força, exatamente o que representa Xangô.

 Cumpridor da Lei Divina, Xangô é um Orixá Justiceiro. Jamais deixa um filho seu ser injustiçado e perseguido. Entretanto, se o filho de Xangô comete injustiças, será ele mais severamente castigado.  

 Como todos nós estamos sujeitos a erros e equívocos na vida, temos que pedir o perdão de Xangô e se redimir dos atos cometidos, pois sua justiça é infalível.

 

 SIMBOLOS  símbolos de Xangô são o machado, o leão e a pedra, elementos que demonstram sua força.

 CULTO a Xangô teve origem na região Oyo, onde hoje é a Nigéria. É conhecido como rei do povo Yorubá. Seu culto chegou ao Brasil e a outros países da América Latina através dos negros escravos.

 A COR de Xangô - Marrom. (No candomblé é o vermelho e branco).

 DIA DA SEMANA - Quarta-Feira.

 DIA DO ANO- depende do santo com o qual foi sincretizado.

 

Sua saudação - "Kaô Kabecile"

 As oferendas para Xangô- levam frutas, quiabo,

 velas marrons e/ou brancas, cerveja preta e charuto.

São entregues, preferencialmente nas pedreiras e/ou cachoeiras. 

 

Da Linha de Xangô originam inúmeras falanges de Caboclos, Pretos velhos e Exus. 

 LEMBRANDO QUE, NA UMBANDA NÃO SE INCORPORA O ORIXÁ, MAS SIM, SEUS FALANGEIROS E CABOCLOS.

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CATOLICISMO-SÃO JERONIMO- O SANTO DIFÍCIL

 

 

 

São Jerônimo (que viveu de cerca de 347 ao ano de 420).

 Sofrônio Eusébio Jerônimo, conforme o livro Os Santos do Calendário Romano (Paulus, 2007).

 

São Jerônimo era de um temperamento dificílimo.

 

E não era o único: de acordo com o livro Um Santo para Cada Dia (Paulus, 1996), São Francisco de Sales  (1567-1622) – cujo nome inspirou Dom Bosco ou São João Bosco  (1815-1888) ao instituir a Congregação dos Padres Salesianos - era igualmente irascível:

 Sofrônio Eusébio Jerônimo, o santo do dia, “por causa da dureza e passionalidade de seu temperamento”, mortificava o corpo “de maneira espantosa”. Frei Jorge E. Hartmann explica:

 "[São Jerônimo] esforçou-se em viver a Palavra de Deus no dia a dia de sua longa vida.

Teria morrido aos 91 anos de idade, apesar de ter um notável caráter difícil.

No popular, diríamos que tinha um ‘pavio curto’, isto é, explosivo, polêmico, impulsivo...

Ele sofria com isso e às vezes chegava a bater com uma pedra no peito, pedindo perdão.

É chamado de “leão da Dalmácia” [região onde nasceu, no sul da Europa] em alusão ao seu caráter forte e determinado."

 

Em Um Santo para Cada Dia: “Este homem extraordinário estava consciente de suas próprias culpas e de seus limites (batia-se no peito com pedras por causa de seus pecados)”.

... conforme o livro da Paulus, a sua grande importância reside nisto:

“A ele devemos a tradução em latim do Antigo e Novo Testamento, que se tornou, com o título de Vulgata, a Bíblia oficial do cristianismo”.

 Vulgata, porque a intenção era melhorar a tradução para o latim, tornando-a mais popular.

 Desse modo, esta Bíblia que temos, devemos a São Jerônimo, o “leão da Dalmácia”.

 São Jerônimo, de acordo com a obra, “em circunstâncias que não conhecemos bem, decidiu-se repentinamente a deixar a terra natal e, levando consigo sua preciosa biblioteca, pôs-se em viagem para o Oriente”. Lá, caiu doente. Durante a Quaresma (período de 40 dias que antecede a Páscoa) do ano de 375, teve uma visão. Nela, foi conduzido ao Tribunal de Deus. O próprio santo descreve:

 "Interrogado no tribunal sobre a minha condição, respondi: - Sou cristão. - Mentes, me disse o Juiz, tu não és cristão, tu és ciceroniano [alusão ao estilo de Marco Túlio Cícero (106-43 A.C.), orador e filósofo romano], porque onde está o teu tesouro, aí está o teu coração."

 

E imediatamente recebeu como castigo uma chuva de açoites. Num juramento solene, declarou:

" Senhor, se por desgraça eu vier a possuir alguma vez livros profanos, ou se vier a lê-los, eu Vos terei renegado!"

 

Então voltou a si, com o corpo todo dolorido. Jerônimo abandonou a cultura pagã e dedicou-se à vida ascética - no deserto, não só fez "austeras penitências", como transcreveu manuscritos bíblicos, aperfeiçoou-se na língua grega e tomou, "com um judeu convertido", lições de hebraico.

 O bispo de Antioquia (Síria), Paulino, quis torná-lo padre. Conforme o livro da Arpress: "Jerônimo, entretanto, que não queria desviar-se de sua clara vocação para os estudos bíblicos, só aceitou a ordenação sob duas condições: a de que não estaria obrigado ao exercício de funções sacerdotais e a de que poderia conduzir-se livremente, sem dever obediência ao Bispo".

 O Papa Dâmaso, estabelecido no trono de São Pedro de 366 a 384, "não podia deixar de ter sua atenção atraída para o jovem monge que chegava [a Roma] de Constantinopla [atual Istambul, na Turquia] e soube servir-se de seus talentos. Nomeou-o seu secretário para os assuntos do Oriente e seu consultor sobre questões da Escritura".

 Assim, Sofrônio Eusébio Jerônimo reviu, a pedido do Sumo Pontífice, o texto dos Evangelhos. Já em Belém, para onde seguiu após a morte do Papa Dâmaso e permaneceu por trinta e quatro anos, até morrer, "recomeçou os estudos do hebraico sob a direção de um judeu e empreendeu uma nova tradução do Antigo Testamento, desta vez a partir do texto original hebraico".

 Em síntese, e segundo o site ACI Digital , "São Jerônimo traduziu [a Bíblia] diretamente do hebraico e do grego originais ao latim, com exceção dos livros de Baruc, Sabedoria, Eclesiástico e I e II Macabeus, os quais transcreveu [...] da Ítala Antiga [versão latina que esteve em uso no Ocidente dos séculos II ao V]".

 A obra de São Jerônimo foi vastíssima. Ele não cuidou exclusivamente de traduzir a Bíblia do grego e do hebraico para o latim vulgarizado ou popular: deixou inúmeros comentários bíblicos, escreveu sobre a História da Igreja, traduziu outros textos, compôs biografias e redigiu mais de uma centena de cartas.

 

 

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