PG 114 -A FAMÍLIA DE OMOLÚ/ OBALUAÊ

 

OXALUFÃ COM NANÃ TIVERAM 4 FILHOS: OMOLÚ/OBALUAÊ, OXUMARÉ  EWA E OSSAIN.

 A TERRA, O SOLO, O SUBSOLO, ERA TUDO PROPRIEDADE DE NANÃ E SUA FAMÍLIA.

       

 O PAI  DE OMOLÚ: OXALUFÂ (Oxalá velho)

OXALÁ é o detentor do poder genitor masculino. Todas suas representações incluem o branco. E um elemento fundamental dos primórdios, massa de ar e massa de água, a protoforma e a formação de todo tipo de criaturas no AIYE e no ORUN.

É o Orixá da paz.

 A MÃE DE OMOLÚ: NANÃ

Nanã Burukú é o orixá dos mangues, do pântano, senhora da morte responsável pelos portais de entrada (reencarnação) e saída (desencarne) das almas.

Nanã é considerada o orixá mais antigo do mundo. Quando Orunmilá chegou aqui para frutificar a terra, ela aqui já estava.

Nanã desconhece o ferro por se tratar de um orixá da pré-história, anterior à idade do ferro.

 

O termo “nanan” significa raiz, aquela que se encontra no centro da terra. Nanã tornou-se uma das yabás (orixás femininas) mais temidas, tanto que em algumas tribos quando seu nome era pronunciado todos se jogavam ao chão.

                                           

OS TRÊS IRMÃOS DE OMOLÚ                                                   

                                               EWA

 

          

 

           

Também conhecida como Ìyá Wa é a divindade do rio Yewa.

Assim como Yemanjá e Oxum, também é uma divindade feminina das águas e, as vezes, associada a fecundidade.

Ewá é casta, a Senhora das possibilidades, reverenciada como a dona do mundo e dona dos horizontes. Em algumas lendas aparece como a esposa de Oxumarê, pertencendo a ela a faixa branca do arco-íris, em outras como esposa de Obaluaiê ou Omulu.

Orixá que protege as virgens e tudo que é inexplorável. Ewá domina o poder da vidência, Senhora do Céu Estrelado, Rainha dos Cosmos.

Ela está o lugar onde o homem não alcança.

 Seu símbolo é o arpão, pode também carregar um ofá dourado, uma espingarda ou uma serpente de metal. As palmeiras com folhas em leque também simbolizam Ewá – exótica, bela..

 Na verdade ela mantém fundamentos em comum com Oxumarê, inclusive dançam juntos, mas não se sabe ao certo se seria a porção feminina, sua esposa ou filha.

Nanã queria o melhor para seus filhos, queria que Ewá casasse com alguém que a amparasse.

Nanã pediu a Orunmilá bom casamento para Ewá.

Ewá era linda e carinhosa.

Mas ninguém se lembrou de oferecer sacrifício algum para garantir a empreitada.

Vários príncipes ofereceram-se prontamente a desposar Ewá.

E eram tantos os pretendentes que logo uma contenda entre eles se armou.

A concorrência pela mão da princesa transformou-se em pugna incessante e mortal.

Jovens se digladiavam até a morte.

Vinham de muito longe, lutavam como valentes para conquistar sua beleza.

Mas a cada vencedor, Ewá não se decidia.

Ewá não aceitava o pretendente.

Vinham novos candidatos e outros combates.

Ewá não conseguia decidir-se, ainda que tão ansiosa estivesse para casar-se e acabar de vez com o sangrento campeonato.

Tudo estava feio e triste no reino de Nanã; a terra seca, o sol quase se apagara.

Só a morte dos noivos imperava.

Ewá foi então à casa de Orunmilá para que ele a ajudasse a resolver aquela situação desesperadora e pôr um fim àquela mortandade. Ewá fez os ebós encomendados por Ifá.

Os ventos mudaram, os céus se abriram, o sol escaldava a terra e, para o espanto de todos, a princesa começou a desintegrar-se.

Foi desaparecendo, perdendo a forma, até evaporar-se completamente e transformar-se em densa e branca bruma.

E a névoa radiante de Ewá espalhou-se por toda a Terra.

E na névoa da manhã Ewá cantarolava feliz e radiante.

Com força e expressões inigualáveis cantava a bruma.

O Supremo Deus determinou então que Ewá zelasse pelos indecisos amantes, olhasse seus problemas, guiasse suas relações.

Ewá é descrita como a linha do horizonte, uma linha que separa o céu da terra e do mar, a tangência que limita os dois.

Como uma leve neblina, assim deve-se desenvolver a espiritualidade em cada um de nós, suave e constantemente. Não se pode ter pressa nem fanatismo, não se alcança na marra; tem que ser desenvolvida e compreendida com calma e segurança.

 

LENDA

Ewá é presa no formigueiro por Omulú

Ewá era uma caçadora de grande beleza, que cegava com veneno quem se atrevesse a olhar para ela.

Ewá casou-se com Omulú, que logo demonstrou ser marido ciumento.

Um dia, envenenado pelo ciúme doentio, Omulú desconfiou da fidelidade da mulher e a prendeu num formigueiro.

As formigas picaram Ewá quase até a morte e ela ficou deformada e feia.

Para esconder sua deformação, sua feiúra, Omulú então a cobriu com palha-da-costa vermelha.

Assim todos se lembrariam ainda como Ewá tinha sido uma caçadora de grande beleza.

 

OXUMARÊ  

             

            

Oxumarê é um Orixá complexo, suas funções são múltiplas.

 Na Mitologia yorubá é considerado o Orixá dos movimentos e de todos os ciclos.

Senhor da mobilidade e da atividade, é representado pela cobra e pelo arco-íris, por isso é considerado o senhor de tudo o que é alongado, como, por exemplo, o cordão umbilical que significa a ligação entre o velho e o novo, entre os homens e seus antepassados, a continuidade. Em sua mitologia é filho mais novo e preferido de Nanã. É irmão de Omulu, Ewa e Ossain.

Representado por uma serpente que morde a própria cauda (Ouroboros), se mostra como símbolo da continuidade e permanência.  Também representa a movimentação e mobilidade da Terra, com seus movimentos de rotação e translação, positivo e negativo.

O arco-íris, a grande serpente colorida, representa a comunicação entre o céu e a terra, um elo entre os dois.

Oxumarê é um Orixá ambíguo, macho e fêmea, belo (arco-íris) e perigoso (serpente), céu e terra, exprime, portanto a dualidade, a união dos opostos.

Oxumarê mostra a necessidade de movimento e de transformação. Ele é o movimento psíquico, a dinâmica entre o inconsciente e o consciente, a relação entre ego e Self.

 

LENDA

Conta-se que Oxumarê não tinha simpatia pela chuva.

Toda vez que ela reunia suas nuvens e molhava a terra por muito tempo, Oxumarê apontava para o céu ameaçadoramente com sua faca de bronze e fazia com que a chuva desaparecesse, dando lugar ao arco-íris.

Um dia Olodumare contraiu uma moléstia que o cegou.

Chamou Oxumarê, que da cegueira o curou.

Olodumare temia, entretanto, perder de novo a visão e não permitiu que Oxumarê voltasse à Terra para morar.

Para ter Oxumarê por perto, determinou que morasse com ele, e que só de vez em quando viesse para a Terra em visita, mas só em visita.

Enquanto Oxumarê não vem à Terra, todos podem vê-lo no céu com sua faca de bronze, sempre se fazendo no arco-iris para estancar a chuva.

Em seu aspecto macro-cósmico, Oxumarê representa este ciclo contínuo da Manifestação Divina, desde sua Fonte Primordial Ativa chegando ao nosso mundo físico passivo e formativo, e recomeçando tudo de novo.

Nossa evolução se dá por Oxumarê!

ORAÇÃO

Oxumaré fica no céu

Controla a chuva que cai sobre a terra.

Chega a floresta e respira como o vento.

Pai venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida.Ossain

 

OSSAIN

         

  

É fundamental sua importância, porque detem o reino e poder das plantas e folhas, imprescindíveis nos rituais e obrigações de cabeça e assentamento de todos os Orixás através dos banhos feitos de ervas.

Como as folhas estão relacionadas com a cura, Ossain também está vinculado à medicina.

LENDA

Ossain, filho de Nanã e irmão de Oxumarê, Ewá e Obaluayê, era o senhor das folhas, da ciência e das ervas.

 O Orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida.

Todos os orixás recorriam a Ossain para curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo.

Todos dependiam de Ossain na luta contra a doença.

Todos iam à casa de Ossain oferecer seus sacrifícios.

Em troca Ossain lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens.

Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.

Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os Orixás deveriam compartilhar o poder de Ossain, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura.

Xangô sentenciou que Ossain dividisse suas folhas com os outros Orixás. Mas Ossain negou-se a dividir suas folhas com os outros Orixás.

Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossain para que fossem distribuídas aos Orixás.

Iansã fez o que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô.

Ossain percebeu o que estava acontecendo e gritou: “Euê Uassá!” “As folhas funcionam!”

Ossain ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossain.

Quase todas as folhas retornaram para Ossain.

As que já estavam em poder de Xangô perderam o Axé, perderam o poder da cura.

O Orixá Rei, que era um Orixá justo, admitiu a vitória de Ossain. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossain e que assim devia permanecer através dos séculos.

Ossain, contudo, deu uma folha para cada Orixá, deu uma euê para cada um deles.

Cada folha com seus axés e seus efós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam.

Ossain distribuiu as folhas aos Orixás para que eles não mais o invejassem.

Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si.

Ossain não conta seus segredos para ninguém, Ossain nem mesmo fala.

Fala por ele seu criado Aroni.

Os Orixás ficaram gratos a Ossain e sempre o reverenciam quando usam as folhas.

 

SIMBOLOS

Um dos símbolos de Ossain é o pássaro…

Pássaro: O pássaro simboliza a inteligência, a sabedoria, a leveza, o divino, a alma, a liberdade, a amizade. Por possuírem asas e o poder de voar, em muitas culturas são considerados mensageiros entre o céu e a terra.

…Justamente simbolizando o nosso contato com o céu através da natureza. No sentido do céu para a terra, representa a Vida encontrada na natureza (e em toda forma organizada); no sentido da terra para o céu representa o uso que damos as folhas de Ossain (e a toda forma organizada) para atingirmos esferas superiores, mesmo nossos corpos mais sutis.

ARONI:     

Encontramos várias descrições sobre este amigo de Ossain que vive com ele nas matas; essas descrições convergem para a descrição de um anão, caolho ou com um olho maior que o outro e com uma só perna. Também se encontram referências sobre ele ser um Encantado (elemental) que vive na parte mais profunda da floresta, sendo o responsável por todo o conhecimento das folhas que Ossain tem. Não mais que isso.

Mas, em vista do que vimos até aqui, podemos tirar algumas conclusões sobre alguns dos simbolismos desta descrição.  O fato de ter apenas uma perna, ou apenas um pé, significa que seu contato com o chão (Malkuth) é menor; por conseqüência seu contato com o astral é maior.  O mesmo ocorre com o fato de ter um olho a menos ou menor; significa “olhar menos”, dar menos atenção ao que se pode ver com os olhos carnais desviando sua “visão” para os “canais regulares” por onde a energia do Criador flui incensavelmente no plano denso material.

 

AS MENSAGENS  DE  OMOLÚ/OBALUAÊ, EWA E OXUMARÊ 

No plano físico, com OBALUAÊ entendemos nosso processo de evolução através do aprendizado da matéria, a dor das chagas que nós mesmos causamos e a transmutação através da evolução. Sentimos na própria pele em nossa existência física, as chagas causadas por nossas atitudes mentais desequilibradas.

EWA nos mostra que o Plano Espiritual, Plano Astral ou Plano Superior – O Orun – está ao nosso alcance; de uma forma sutil que não se alcança pela carne, não se vê com os olhos (por isso é sábio o sincretismo com Santa Luzia) mas só estará exilado aqui quem assim o quiser.

OSSAIN nos ensina que não só pela mediunidade pode-se entrar em contato com energias Divinas, mas que estas estão presentes em toda forma organizada, orgânica ou não.  No plano, seja o Reino Animal, Vegetal ou mesmo no Mineral, tudo possui Vida, tudo é obra do Criador.

FONTES PESQUISADAS: 

A Cabala Mística – Dion Fortune

Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi

Orixás – Pierre Fatumbi Verger

Apostila Curso de Umbanda / Ewá – Sociedade Espiritualista Mata Virgem

 

Melinda Gutierrez