38- BENZEDEIRA E BENZIMENTOS/ CULTURA POPULAR

Quem não lembra das benzedeiras, de ter sido "benzido" contra mal olhado, cobreiro etc.etc.?

CULTURA É VIDA!

 

Em termos de cultura popular ou folclore, o povo guarda as coisas :suas cantigas, seus remédios, as técnicas de trabalho, seus provérbios, suas devoções

 

 

 

Na Bíblia nós encontramos diversas orações de bênçãos.

 Uma das mais antigas está no Livro do Gênesis, capítulo 12, versículo 3: “Eu o abençoarei, o seu nome será famoso, e você será uma benção para os outros. E por seu intermédio eu abençoarei todos os povos do mundo”.

 

Logo adiante, no Livro dos Números,  capítulo 6, versículos 22 a 26 lemos assim: “Fale com Arão e com os seus filhos, diga-lhes que abençoem o povo de Israel do seguinte modo: Que o Senhor os abençoe e os guarde; que o Senhor os trate com bondade e misericórdia; que o Senhor olhe para vocês com amor e lhes dê a paz”.

 

"Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, ali eu estarei."

Mt 18, 20...

 

É preciso CRER e TER FÉ para receber as graças do Espírito Santo que nos são dadas diariamente.

 

 

 

BENZEDEIRAS- A FÉ QUE CURA

 

 

 

 

As rezadeiras tem remédio para tudo. Não há doença que não se cure. Espinhela caída, carne quebrada, cobreiro, quebranto, mal olhado, doenças nervosas, encosto, doenças físicas, todos esses males tem solução!

 

A tradição de cura através de rezas, banhos, chás e efusões, ainda é presente na sociedade moderna.

 

O cantar silencioso, e o chacoalhar de ramos de ervas, traduz a ciência de um povo, o conhecimento do cotidiano.

Gripe, mal estar, doenças crônicas, ou até mesmas doenças sem curas, tem sido amenizadas pela utilização de receitas caseiras.

 

 

“As benzedeiras apelam para santos católicos, entidades de umbanda e personagens folclóricos brasileiros”.

 

 

 

 

 

 

Santa Luzia é evocada para curar males da visão.

 

Com fé em Santa Brígida, a garantia do fim da dor de cabeça.

 

Se engasgar, é só rogar por São Brás.

 

O Preto Velho tira o mau-olhado de crianças.

 

Aliar-se a São Jorge afasta ferimentos provenientes das lâminas frias de armas brancas.

 

A Escrava Anastácia livra das perseguições e injustiças.

Santos fortes para rezas fortes.

 

Mas, garantem os religiosos, maior que qualquer santo é a FÉ de quem procura a bênção."

 

 

 

A cultura das benzedeiras é uma herança familiar.

Geralmente numa mesma família, a avó,o pai, a mãe, e tias também compartilham deste "dom".

 Um conhecimento passado de geração para geração.

 “As rezas devem ser mantidas em segredo. Caso contrário, quebram-se as forças, perdem o poder” diz seu Galdino Ferreira da Silva, 79, de Cajazeiras (PB), rezador famoso na sua cidade.

 

Mas as rezas não servem somente para pessoas, até mesmo os animais podem ser livrados do mal. Cavalos, galinhas, cachorros, casas, objetos, propriedades, tudo pode ser "benzido".

 

 

As benzedeiras acreditam no poder de suas atividades e se propõe sempre disposta a atender os que recorrem aos seus cuidados.

 

Podemos enumerar algumas situações ligadas as atividades das benzedeiras:

 

 

 

OS MALES E AS REZAS

 

QUEBRANTO

 

Também conhecido como mal olhado. Provoca moleza em crianças, sono e irritação.

 “Com dois puseram, com três eu tiro. Com as três pessoas da Santíssima Trindade, que tira quebranto e mau-olhado, pras ondas do mar, pra nunca mais voltar”

 

 

ESPINHELA CAIDA

 

Dor na região do tórax, associada à debilidade física

“Barquinho de Santa Maria navega no mar sem emborcar. Levanta a sua espinhela, põe tudo no seu lugar”

 

 

CARNE QUEBRADA

  

Dor muscular provocada por ferimentos internos.

 

“O que é que eu cosi? Assim mesmo eu coso, osso rendido, nervo magoado, veia sentida, carne quebrada. Assim mesmo eu coso, em louvor a São Frutuoso”

 A reza é feita enquanto se costura um pedaço de pano com agulha e linha.

 

 

 

ERIZIPELA

  

Doença infecciosa, que provoca inflamação da pele.

 

“Ezipa, erisipela, deu no tutano. Do tutano deu no osso, do osso deu na carne, da carne deu na pele, da pele vai pras ondas do mar sagrado, com o poder de Deus e da Virgem Maria”

Adaptado do texto de João Rafael Torres.

 Postado por  Espaço de Cultura     às  19:04

 

 

LITERATURA DE CORDEL  / BENZEDEIRAS/

 

 

 

 

A CURA DE OUTRORA I

 

Antigamente meu povo

 

Na natureza se achava

 

Remédio pra todo mal

 

No mato se procurava

 

A nossa avó com cuidado

 

Com as raízes curava.

 

 

 

 

Eram raízes e folhas

 

Cascas e flores também

 

E tudo era preparado

 

Pronto pra fazer o bem

 

Tomado com muita fé

 

Era só dizer Amém.

 

 

 

Hortelã folha miúda

 

Na AFTA podia usar

 

Ou a alfazema braba

 

Você não vai duvidar

 

Os dois em forma de chá

 

Pra bochechar e tomar.

 

 

 

Na folha da pitangueira,

 

Também na forma de chá

 

Um remeidão pra AMEBA

 

Você pode acreditar

 

E também coroa de frade

 

Fazia ameba acabar.

 

 

 

Tinha chá de vassourinha

 

Pra sua BRONQUITE curar

 

Ipepaconha, agrião

 

Outros se podiam usar:

 

Mastruz com leite ou angico

 

Eucalipto e mangará.

 

 

 

 

 

 

Pra curar AMIGDALITE

 

Era chá de aroeira

 

Também cajueiro roxo

 

Nada disso era asneira

 

O que pra muitos era cura

 

Hoje pra uns é besteira.

 

 

 

 

CATARATA, eu alcancei,

 

Cenoura crua ralavam

 

Com o suco de limão

 

As pessoas colocavam

 

Nos olhos com muita fé

 

Dizendo que melhoravam.

 

 

 

COLESTEROL, muita gente

 

Oliveira roxa usava,

 

O chá da folha diziam

 

Com certeza se tomava

 

E suco de tamarindo

 

Que no terreiro encontrava.

 

 

 

Pra CALMANTE era mais fácil,

 

Muita coisa se ensinou

 

Tinha suco e também chá

 

Do maracujá se provou

 

Com folha da laranjeira

 

Muita gente se acalmou.

 

 

 

Pra história do CALO SECO

 

Você não vá se espantar

 

Água morna era boa

 

Com cebola pra esfregar,

 

Cebola branca e cenoura

 

Na água pra mergulhar.

 

 

 

Uma coisa interessante

 

Boa pra CÁLCULO RENAL:

 

Chá do rabo de raposa

 

Que era uma planta banal

 

E raiz da quebra pedra

 

Diziam também ser legal.

 

 

 

Para CÓLICAS NO FÍGADO:

 

Chá da folha do melão,

 

Melão de São Caetano

 

Não é o de comer não

 

Na região nordestina

 

Encontramos de montão.

 

 

 

E na CÓLICA MENSTRUAL

 

Que à mulher vem incomodar

 

É bom pra bem no período

 

Antes e depois usar

 

Hortelã, folha miúda

 

Ou botão de rosas, um chá.

 

 

 

Pra COCEIRA, meus amigos,

 

Que de Sarna hoje chama,

 

Fazer o chá da entrecasca

 

Do cajueiro era fama

 

E com folha do melão

 

São Caetano, não engana.

 

 

 

Sumo de alho picado:

 

Dizia-se pra DOR DE DENTE

 

Deixar no local doído

 

Usar nem frio nem quente

 

E assim curaram a dor

 

Do dente de muita gente.

 

 

 

Agora pra DOR DE OUVIDO:

 

Algodão umedecer

 

Com sumo do alho ou da folha

 

Manjericão e aquecer

 

Pra colocar no ouvido

 

Experimente pra ver.

 

 

 

Olha só, DOR DE CABEÇA

 

Se curava de montão

 

Erva cidreira, hortelã

 

Folha miúda, pois não,

 

Folha de mamão de corda

 

Tudo pra chá, meu irmão.

 

 

 

Pesquisei pra DIABETES

 

O que era de assombrar

 

Coalhada com um limão

 

Ensinavam pra tomar

 

Meio copo em jejum

 

E ninguém ia duvidar.

 

 

 

Para GASTRITE, meu povo

 

Uma eu vou lhe dizer

 

Era um remédio bem bom

 

E fácil de fazer:

 

Suco de couve ou batata

 

Inglesa, pra entender.

 

 

 

O chá da folha da pinha

 

Era no ensinamento

 

Usado para HEMORRÓIDA

 

Mais um banho de assento

 

Duma baba de babosa

 

Quando houvesse sangramento.

 

 

 

E para aquele PIOLHO

 

Que nos vinha atormentar

 

Folha de arruda usavam

 

Para o cabelo lavar

 

Tinha que ser chá bem forte

 

Para o piolho matar.

 

 

 

Aqui eu vou encerrar,

 

Mas outros vou escrever

 

Aguarde o que vem depois

 

Não vá se surpreender

 

Na cultura popular

 

Tem muito o que a gente ver.

 

 

 

Eu pesquiso sempre, sempre

 

Para informação buscar

 

Quero mostrar pra vocês

 

Tudo o que eu encontrar

 

Com relação aos remédios

 

Eu sempre vou divulgar.

 

 

Não quero neste cordel

 

Incentivar o leitor

 

A desprezar a medicina

 

E não procurar um doutor,

 

Mas nossa sabedoria

 

Não esqueçamos, por favor

 

Autora: Mª Nelcimá de Morais Santos

Disponível em: http://www.ablc.com.br/cordeldavez/cordeldavez.htm