Quem não lembra das benzedeiras, de ter sido "benzido" contra mal olhado, cobreiro etc.etc.?
CULTURA É VIDA!
Em termos de cultura popular ou folclore, o povo guarda as coisas :suas cantigas, seus remédios, as técnicas de trabalho, seus provérbios, suas devoções
Na Bíblia nós encontramos diversas orações de bênçãos.
Uma das mais antigas está no Livro do Gênesis, capítulo 12, versículo 3: “Eu o abençoarei, o seu nome será famoso, e você será uma benção para os outros. E por seu intermédio eu abençoarei todos os povos do mundo”.
Logo adiante, no Livro dos Números, capítulo 6, versículos 22 a 26 lemos assim: “Fale com Arão e com os seus filhos, diga-lhes que abençoem o povo de Israel do seguinte modo: Que o Senhor os abençoe e os guarde; que o Senhor os trate com bondade e misericórdia; que o Senhor olhe para vocês com amor e lhes dê a paz”.
"Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, ali eu estarei."
Mt 18, 20...
É preciso CRER e TER FÉ para receber as graças do Espírito Santo que nos são dadas diariamente.
BENZEDEIRAS- A FÉ QUE CURA
As rezadeiras tem remédio para tudo. Não há doença que não se cure. Espinhela caída, carne quebrada, cobreiro, quebranto, mal olhado, doenças nervosas, encosto, doenças físicas, todos esses males tem solução!
A tradição de cura através de rezas, banhos, chás e efusões, ainda é presente na sociedade moderna.
O cantar silencioso, e o chacoalhar de ramos de ervas, traduz a ciência de um povo, o conhecimento do cotidiano.
Gripe, mal estar, doenças crônicas, ou até mesmas doenças sem curas, tem sido amenizadas pela utilização de receitas caseiras.
“As benzedeiras apelam para santos católicos, entidades de umbanda e personagens folclóricos brasileiros”.
Santa Luzia é evocada para curar males da visão.
Com fé em Santa Brígida, a garantia do fim da dor de cabeça.
Se engasgar, é só rogar por São Brás.
O Preto Velho tira o mau-olhado de crianças.
Aliar-se a São Jorge afasta ferimentos provenientes das lâminas frias de armas brancas.
A Escrava Anastácia livra das perseguições e injustiças.
Santos fortes para rezas fortes.
Mas, garantem os religiosos, maior que qualquer santo é a FÉ de quem procura a bênção."
A cultura das benzedeiras é uma herança familiar.
Geralmente numa mesma família, a avó,o pai, a mãe, e tias também compartilham deste "dom".
Um conhecimento passado de geração para geração.
“As rezas devem ser mantidas em segredo. Caso contrário, quebram-se as forças, perdem o poder” diz seu Galdino Ferreira da Silva, 79, de Cajazeiras (PB), rezador famoso na sua cidade.
Mas as rezas não servem somente para pessoas, até mesmo os animais podem ser livrados do mal. Cavalos, galinhas, cachorros, casas, objetos, propriedades, tudo pode ser "benzido".
As benzedeiras acreditam no poder de suas atividades e se propõe sempre disposta a atender os que recorrem aos seus cuidados.
Podemos enumerar algumas situações ligadas as atividades das benzedeiras:
OS MALES E AS REZAS
QUEBRANTO
Também conhecido como mal olhado. Provoca moleza em crianças, sono e irritação.
“Com dois puseram, com três eu tiro. Com as três pessoas da Santíssima Trindade, que tira quebranto e mau-olhado, pras ondas do mar, pra nunca mais voltar”
ESPINHELA CAIDA
Dor na região do tórax, associada à debilidade física
“Barquinho de Santa Maria navega no mar sem emborcar. Levanta a sua espinhela, põe tudo no seu lugar”
CARNE QUEBRADA
Dor muscular provocada por ferimentos internos.
“O que é que eu cosi? Assim mesmo eu coso, osso rendido, nervo magoado, veia sentida, carne quebrada. Assim mesmo eu coso, em louvor a São Frutuoso”
A reza é feita enquanto se costura um pedaço de pano com agulha e linha.
ERIZIPELA
Doença infecciosa, que provoca inflamação da pele.
“Ezipa, erisipela, deu no tutano. Do tutano deu no osso, do osso deu na carne, da carne deu na pele, da pele vai pras ondas do mar sagrado, com o poder de Deus e da Virgem Maria”
Adaptado do texto de João Rafael Torres.
Postado por Espaço de Cultura às 19:04
LITERATURA DE CORDEL / BENZEDEIRAS/
A CURA DE OUTRORA I
Antigamente meu povo
Na natureza se achava
Remédio pra todo mal
No mato se procurava
A nossa avó com cuidado
Com as raízes curava.
Eram raízes e folhas
Cascas e flores também
E tudo era preparado
Pronto pra fazer o bem
Tomado com muita fé
Era só dizer Amém.
Hortelã folha miúda
Na AFTA podia usar
Ou a alfazema braba
Você não vai duvidar
Os dois em forma de chá
Pra bochechar e tomar.
Na folha da pitangueira,
Também na forma de chá
Um remeidão pra AMEBA
Você pode acreditar
E também coroa de frade
Fazia ameba acabar.
Tinha chá de vassourinha
Pra sua BRONQUITE curar
Ipepaconha, agrião
Outros se podiam usar:
Mastruz com leite ou angico
Eucalipto e mangará.
Pra curar AMIGDALITE
Era chá de aroeira
Também cajueiro roxo
Nada disso era asneira
O que pra muitos era cura
Hoje pra uns é besteira.
CATARATA, eu alcancei,
Cenoura crua ralavam
Com o suco de limão
As pessoas colocavam
Nos olhos com muita fé
Dizendo que melhoravam.
COLESTEROL, muita gente
Oliveira roxa usava,
O chá da folha diziam
Com certeza se tomava
E suco de tamarindo
Que no terreiro encontrava.
Pra CALMANTE era mais fácil,
Muita coisa se ensinou
Tinha suco e também chá
Do maracujá se provou
Com folha da laranjeira
Muita gente se acalmou.
Pra história do CALO SECO
Você não vá se espantar
Água morna era boa
Com cebola pra esfregar,
Cebola branca e cenoura
Na água pra mergulhar.
Uma coisa interessante
Boa pra CÁLCULO RENAL:
Chá do rabo de raposa
Que era uma planta banal
E raiz da quebra pedra
Diziam também ser legal.
Para CÓLICAS NO FÍGADO:
Chá da folha do melão,
Melão de São Caetano
Não é o de comer não
Na região nordestina
Encontramos de montão.
E na CÓLICA MENSTRUAL
Que à mulher vem incomodar
É bom pra bem no período
Antes e depois usar
Hortelã, folha miúda
Ou botão de rosas, um chá.
Pra COCEIRA, meus amigos,
Que de Sarna hoje chama,
Fazer o chá da entrecasca
Do cajueiro era fama
E com folha do melão
São Caetano, não engana.
Sumo de alho picado:
Dizia-se pra DOR DE DENTE
Deixar no local doído
Usar nem frio nem quente
E assim curaram a dor
Do dente de muita gente.
Agora pra DOR DE OUVIDO:
Algodão umedecer
Com sumo do alho ou da folha
Manjericão e aquecer
Pra colocar no ouvido
Experimente pra ver.
Olha só, DOR DE CABEÇA
Se curava de montão
Erva cidreira, hortelã
Folha miúda, pois não,
Folha de mamão de corda
Tudo pra chá, meu irmão.
Pesquisei pra DIABETES
O que era de assombrar
Coalhada com um limão
Ensinavam pra tomar
Meio copo em jejum
E ninguém ia duvidar.
Para GASTRITE, meu povo
Uma eu vou lhe dizer
Era um remédio bem bom
E fácil de fazer:
Suco de couve ou batata
Inglesa, pra entender.
O chá da folha da pinha
Era no ensinamento
Usado para HEMORRÓIDA
Mais um banho de assento
Duma baba de babosa
Quando houvesse sangramento.
E para aquele PIOLHO
Que nos vinha atormentar
Folha de arruda usavam
Para o cabelo lavar
Tinha que ser chá bem forte
Para o piolho matar.
Aqui eu vou encerrar,
Mas outros vou escrever
Aguarde o que vem depois
Não vá se surpreender
Na cultura popular
Tem muito o que a gente ver.
Eu pesquiso sempre, sempre
Para informação buscar
Quero mostrar pra vocês
Tudo o que eu encontrar
Com relação aos remédios
Eu sempre vou divulgar.
Não quero neste cordel
Incentivar o leitor
A desprezar a medicina
E não procurar um doutor,
Mas nossa sabedoria
Não esqueçamos, por favor
Autora: Mª Nelcimá de Morais Santos
Disponível em: http://www.ablc.com.br/cordeldavez/cordeldavez.htm