XIRÊ
Lua, iumina o terreiro.
Apagou-se o candieiro
Na hora de sarandar.
A yabase na cozinha
Prepara a boa comida
Pra quando a festa acabar.
No chão de terra batida
Estão as folhas colhidas
Lá nas matas da Jurema.
Nas brancas roupas cheirosas
Das yaos caprichosas,
O aroma de alfazema.
Tem mariô desfiado,
Tem gente pra todo lado
Querendo se acomodar.
Os atabaques chamando,
Mais gente está chegando.
O xirê vai começar.
Ogum vem abrir caminho,
Oxum vem devagarinho
Sua beleza mostrar.
Yansã com sua espada,
Com Ogum vai pela estrada
Sem medo de demandar.
Um a um os Orixás:
Xangô, Oxossi, Yemajá,
No terreiro vão chegando.
Nanã, Ossãe,Oba,
Omolú com seu xaxará,
Suas danças vão dançando.
A banda cheirando a flores,
Os Santos com suas cores,
Tudo é mistério e magia.
Alua já se escondeu.
Só Vesper está no céu.
Vem raiando um novo dia.
E o Sol se espreguiçando,
A sua luz derramando.
Chega para anunciar:
Oxalá,senhor da paz,
Que tudo vê e tudo faz
Vem seus filhos abençoar!
O perdão e a bondade,
O amor e prosperidade,
Á todos vem ofertar.
Aos presentes e ausentes
Aos crentes e aos descrentes
Sem nenhum discrimimar.
É o ferro a fogo forjado,
É a mata verde,punjante,
É o rio e a correnteza,
É a terra, o raio, o trovão,
É o ar que respiramos
Orixas são natureza.
Melinda
NOÇÕES BÁSICAS SOBRE “XIRÊ”
XIRÊ
Xirê é uma estrutura sequencial de cantigas para todos os orixás cultuados na casa ou mesmo pela “nação”, começando por Exú e indo até Oxalá.
A PALAVRA XIRÊ
A palavra xirê significa brincar, dançar, e denota o tom alegre da festa de candomblé, aonde os próprios orixás vêm a terras para dançar e brincar com seus filhos.
Durante o xirê, um a um, todos os orixás são saudados e louvados com cantigas e coreografias próprias.
É nesses momentos, de grande efervescência ritual, que as divindades “baixam”.
OS ORIXÁS NO XIRÊ
*Na MAIORIA dos candomblés o xirê segue a seguinte ordem:
Primeiro toca-se para Exú, no padê
(porque ele é o intermediário entre os homens e os orixás, entre o mundo do além e o da terra);
Depois, para Ogum
(porque é o dono dos caminhos e dos metais e sem ele e suas invenções da faca e da enxada o sacrifício aos orixás e o trabalho na terra estariam impedidos);
Oxossi
(porque é irmão de Ogum e porque também está ligado à sobrevivência através da caça e da pesca);
Obaluayê
(porque é o orixá da cura das doenças, ou aquele que as traz);
Ossaim
(dono das folhas que curam; daí sua ligação com Obaluayê e também porque nada se faz sem folhas no candomblé);
Oxumarê
(aquele que faz a ligação entre o céu (nuvens) e a terra);
Oxum
(esposa favorita de Xangô, senhora das águas doces, do amor e do ouro);
Logum-nedé (o filho de Oxum, com Oxossi);
Iansã
(senhora dos ventos e tempestades que no mito criou Logum-Nedé, juntamente com Ogum, quando Oxum o abandonou);
Xango;
(orixá da justiça)
Obá
(em muitas casas como irmã de Iansã e a terceira mulher de Xangô);
Nanã
(a mais velha das yabás-orixá femininos);
Yemanjá
(senhora das águas do mar. Dona das cabeças e mulher de Oxalá);
Oxalá
(o senhor de toda a criação).
Algumas casas, entretanto, seguem outra ordem: Exú é louvado antes do começo da festa, geralmente às 6 horas da tarde, sendo “despachado”.
Quando começa a festa toca-se para Ogum, Oxosse, Ossaim (porque são irmãos); Obaluayê, Oxumarê, Ewá e Nanã (três irmãos e sua mãe respectivamente, tidos como uma “família” da nação Gegê); Oxum e Logum-Nedé (mãe e filho); Iansã e Obá (duas irmãs); Xangô, Yemanjá e por fim Oxalá (filhos e seus pais respectivamente).
ESSA SEQUÊNCIA:
Essa sequência parece privilegiar os vínculos de parentescos e de nação, enquanto que a primeira privilegia os acontecimentos míticos que colocam em relação os orixás.
Seja qual for sua sequência e sua concepção cosmológica, ela costuma ser fixa para cada casa.
É ela que, de alguma forma, norteia os acontecimentos da festa, fazendo, entre outras coisas, com que os filhos identifiquem, através das cantigas e ritmos, os momentos apropriados ao cumprimento da etiqueta religiosa, como, por exemplo, dançar de certa maneira ou pedir a benção à mãe-criadeira, quando se toca para o orixá.
Fonte: Folha de Camacari