64-OGUM- SEGUNDA PARTE

 

                                                          OGUM-SÃO JORGE

PAPEL RELEVANTE DE SÃO JORGE NO CATOLICISMO

REI EDUARDO III

 

A Inglaterra, aliada histórica dos portugueses, foi o país ocidental onde a devoção ao

santo teve papel mais relevante.

O monarca Eduardo III colocou sob a proteção de São Jorge a

Ordem da Jarreteira, fundada por ele em 1330, pois a imagem de santo guerreiro, ligado às

espadas, já existia.

 

 

 

 

 

                       AS CRUZADAS

Por considerá-lo a imagem perfeita dos cavaleiros medievais, o rei inglês

Ricardo I, comandante de uma das Cruzadas, constituiu São Jorge padroeiro daquelas

expedições que tentavam conquistar a Terra Santa aos muçulmanos.                                REI RICARDO I "CORAÇÃO DE LEÃO"

 

No século XIII, a Inglaterra já celebrava o nome de São Jorge, e em 1348 surge a

Ordem dos Cavaleiros de São Jorge.

Os ingleses adotaram definitivamente São Jorge como

padroeiro do país, trazendo também a sua cruz vermelha (cor do sangue, do fogo e do

sacrifício pelas grandes causas) na bandeira de fundo branco (cor da pureza).

 

 

 

 

OGUM e SÃO JORGE: sincretismo, dimensões simbólicas e arquetípicas.

 

Ogum, filho de Iemanjá, tem sua importância destacada pela ligação com os metais,

principalmente o ferro, matéria-prima básica para os instrumentos utilizados por caçadores e

agricultores.

É associado atualmente à metalurgia e à siderurgia, representando, dentro do

panteão africano, um símbolo da Revolução Industrial. Não é a toa que muitas das oferendas à

Ogum são realizadas em ferrovias, simbolizando a abertura dos caminhos diante do elemento

ferro

 

 

. Este elemento simboliza a transformação, já que as ferramentas em ferro se tornam

úteis (interação) à produção no momento em que são forjadas em altas temperaturas (o fogo

simbolizando o potencial criativo da mente).

O ferro, portanto, é o símbolo dos objetos que

servem aos seres humanos, tornando-os produtivos à sociedade e salvando-os do mal, fato que

pode ser percebido na espada de São Jorge

 

 

Além disso, Ogum representa a capacidade do ser humano de controlar a natureza e

utilizá-la para o benefício de todos.

 Por conta dos metais, Ogum passou a ser associado à

guerra, desviando seu papel de comandante das atividades agrícolas para a atividade bélica e

passando a ser o “Vencedor das demandas”.

 

 

OGUM E OS DEUSES GREGOS E ROMANOS

 

Tendo como elementos centrais a guerra e a metalurgia, Ogum, ferreiro e guerreiro,

pode ser associado ao deus romano da guerra, Marte, que tem como correspondente Ares, o

deus grego, o vingador, assim como com Vulcano e Hefesto, respectivamente os deuses

romano e grego do fogo, que possuíam a arte de forjar o ferro.                                                          VULCANO

 

 

Acompanhado por Éris (Discórdis), Deimos (Terror), Phóbos (Medo) e Enio

(Devastadora), Ares, proveniente da Trácia, norte grego, apresentava-se com lança, capacete e

armadura em suas batalhas, levando a morte a e destruição por onde passava. Associado ao

movimento, ao ferro, ao vermelho e à coragem, Ares pode nos revelar as “forças primitivas,

instintivas e selvagens em luta com forças atuantes na consciência”,  cuja energia decorrente

se relaciona diretamente com a competição e a vontade de seguir em frente, lutando e

vencendo as batalhas       

HEFESTO

 

 

Já com Vulcano/Hefesto, o ourives divino, o simbolismo do artesão, que forja o ferro

utilizando o fogo dos vulcões, ou seja, a energia desprendida do inconsciente pode representar

a união concreta e abstrata entre arte e técnica

 

.

 

 

A libido (vulcão) se manifesta para a

realização das ações e vivência plena, concretizadas nos objetos criados a partir da

manipulação e transformação dos metais, expressão de uma “erupção” de ideias e

potencialidades mágicas que equivalem à evolução da tecnologia no intuito de dominar,

comandar, desbravar e punir

 

 

 

OGUM  NA MITOLOGIA AFRICANA

 

Através da mitologia dos Orixás africanos, podemos perceber algumas semelhanças

entre  as divindades greco-romanas citadas anteriormente e Ogum, o grande guerreiro e

manipulador dos metais.

Ogum era o mais velho e o mais combativo

dos filhos de Odudua, o conquistador e rei de Ifé.                                                   O GUERREIRO

Por isto, tornou-se o regente do reino quando Odudua,

momentaneamente, perdeu a visão.

 

Ogum era guerreiro sanguinário e temível.

Ogum, o valente guerreiro,

O homem louco dos músculos de aço!

Ogum, que tendo água em casa,

lava-se com sangue!"

Ogum lutava sem cessar contra os reinos vizinhos.

Ele trazia sempre um rico espólio de suas expedições,

além de numerosos escravos.

(...)

 

Durante uma delas, ele tomou Irê.

Antigamente, esta cidade era formada por sete aldeias.

Por isto chamam-no, ainda hoje, Ogum mejejê lodê Irê-

"Ogum das sete partes de Irê"

 

 

A COROA DE OGUM

 

Ogum matou o rei Onirê e o substituiu pelo próprio filho,

conservando para si o título de Rei.

Ele é saudado como Ogum Onirê! "Ogum Rei de Irê!"

Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma coroa,"akorô".

Daí ser chamado, também, de Ogum Alakorô-"Ogum dono da pequena

coroa".

 

 

CONSTITUIÇÃO DE OGUM

Ogum é constituído pela coragem, franqueza e impulsividade.

 No entanto, a agressividade e a virilidade masculinas revelam também que, após

a explosão inicial, descontrolada e destrutiva, como uma erupção vulcânica, Ogum se mostra

arrependido, sensível e amoroso, transformando-se pela culpa.

 

Essa postura, aparentemente

contraditória, possibilita a sua libertação das consequências nefastas que irão atingi-lo, pois a

partir do momento em que ele se dá conta de que o inimigo não existe, volta-se contra si

mesmo.

Essa situação pode ser análoga em situações cotidianas de estresse, pois a ansiedade

leva o organismo a se preparar para a guerra, sem, no entanto, haver inimigo.

Sendo assim,

toda a descarga energética acaba atingindo o próprio combatente, destruindo-o

 

 

ÒGÚM  MÈJEJE  LÓÒDE IRÉ

 

Numa alusão à  Ògún mèjeje lóòde Iré, ou seja, senhor absoluto das sete aldeias ao

redor de Irê, Ogum passou a ter o número sete associado ao seu arquétipo.

Simbolicamente, para Oliveira e Oliveira (2009, p.189-190), o número sete representa a síntese da sacralidade.

 

AS 4 VIRTUDES DA SACRALIDADE

 

As virtudes cardeais (prudência, temperança, justiça e força) e teologais (fé, esperança e

caridade).

 

 

O NÚMERO 7 E OGUM

 

Sete são os dias da semana, as cores do arco-íris, as notas da escala diatônica, os

degraus do sonho de Jacó na Bíblia e os graus da consciência (corpo físico, emoção,

inteligência, intuição, espiritualidade, vontade e vida), segundo Chevalier

 

Ele ainda pode

ser representado, graficamente, pela união do triângulo e do quadrado, que em muitas culturas

poderia ser atribuído à junção do céu (ordem vertical de três dimensões) e da terra (ordem

horizontal dos quatro pontos cardeais), assim como as divindades mitológicas identificadas

pela Cabala hebraica às hierarquias celestes (Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e

Saturno, respectivamente os anjos da luz, dos sonhos, civilizador, do amor, exterminador,

dominador e da solicitude).

São sete os emblemas de Buda no Tibete, assim como o número

de céus, terras e mares no Islã

 

. Portanto, o número sete, associado ao orixá Ogum, sintetiza

o sentido de transformação, o fechamento de um ciclo e de sua renovação 

 

OGUM  E SÃO JORGE 

Senhores da guerra e protetores contra a maldade do Mundo.

 

OGUM-SANTO ANTONIO

Em Salvador, durante as invasões holandesas, Santo Antônio foi visto como um

“santo militar”, dada a popularidade de seus milagres.

 

Para a população da cidade, o Santo foi responsável pela defesa e libertação da capital baiana, sendo associado ao Orixá guerreiro,

 

 

 

 

 

 

                                                    OGUM-SÃO JORGE

No caso do Rio de Janeiro, São Jorge, segundo consta, nascido na Capadócia

(atualmente território turco), se aproxima do imaginário de Ogum pela qualidade de soldado

montado em seu cavalo branco (símbolo da pureza), lutando contra um dragão (o mal,

Satanás), representados comumente pelas imagens.  

.

A princesa que aparece nas telas europeias, que poderia representar a Fé cristã ou a própria

Igreja, não aparece nas representações do santo guerreiro.

 

Senhor da Guerra, indomável e imbatível defensor da lei e da ordem, Ogum assume de

guardião cujo papel é de defensor dos fracos, protege as estradas e os que estão sob demanda.

 

Contraditoriamente, se torna, através do sincretismo com São Jorge, o santo padroeiro dos

cavaleiros, dos soldos que, imponentes, montavam seus cavalos brancos e impunham a

ordem.

Esse atributo explica porque o Orixá é o padroeiro dos policiais, que usam suas armas

para a proteção da população, e dos caminhoneiros.

 

.

Como figuras de poder, São Jorge e Ogum exercem funções simbólicas diferentes.

Enquanto o primeiro está profundamente ligado ao poder público, externo e às forças

Armadas, o segundo não é o único orixá que representa o poder, além de sua expressão se

apresentar como um meio, muito particular, de ligação entre o mundo espiritual e o material.

À espacialidade simbólica católica, externalizada, se opõe outra, interiorizada e relacional nos

terreiros de Umbanda

   

Percebemos que os símbolos são universais, e que Ogum consegue fazer uma ponte

entre povos e culturas aparentemente distintas no tempo e no espaço.

Desde os mitos do norte

da Europa até os orixás africanos, passando pela aculturação cristã, verifica-se o quanto São

Jorge/Ogum/Cavaleiro/Guerreiro está sempre presente nas energias e no imaginário popular,

ou mesmo das elites.

Fonte: Casa poderosa dos filhos de Yemanjá

 

 

 

O CASAMENTO DE SÃO JORGE

Lenda do dragão e da princesa

Jorge ao crescer e adquirir a idade adulta, primeiro lutou contra os sarracenos e, depois de viajar durante muitos meses por terra e mar, foi para Sylén, uma cidade da Líbia.

Nesta cidade, Jorge encontrou um  eremita que lhe disse que toda a cidade estava em sofrimento, pois lá existia um enorme dragão cujo hálito venenoso podia matar toda uma cidade, e cuja pele não poderia ser perfurada nem por lança e nem por espada.

Todos os dias o dragão exigia o sacrifício de uma bela donzela e todas as meninas da cidade haviam sido mortas, só restando a filha do rei, Sabra, que seria sacrificada no dia seguinte ou dada em casamento ao campeão que matasse o dragão. 

Ao ouvir a história, Jorge ficou determinado em salvar a princesa.

Ele passou a noite na cabana do eremita e quando amanheceu partiu para o vale onde o dragão morava.

Ao chegar lá, viu um pequeno cortejo de mulheres lideradas por uma bela moça vestindo trajes de pura seda árabe.

Era a princesa, que estava sendo conduzida pelas mulheres para o local do sacrifício. São Jorge se colocou na frente das mulheres com seu cavalo e, com bravas palavras, convenceu a princesa a voltar para casa.

O dragão, ao ver Jorge, sai de sua caverna, rosnando tão alto quanto o som de trovões.

Mas Jorge não sente medo e enterra sua lança na garganta do monstro, matando-o.

Como o rei do Marrocos e do Egito não queria ver sua filha casada com um cristão, envia São Jorge para a Pérsia e ordena que seus homens o matem.

 Jorge se livra do perigo e leva Sabra para a Inglaterra, onde se casa e vive feliz com ela até o dia de sua morte, na cidade de Coventry.

  

OGUM- TERCEIRA PARTE: COMIDAS- FOLHAS E FRUTAS